A maior dificuldade dos grupos que procuram criar uma organização revolucionária de novo tipo consiste em estabelecerem novas relações humanas no seio duma tal organização. É certo e seguro que a sociedade exerce uma pressão omnipresente contra esta tentativa. Mas se não for possível lá chegar através de métodos que pressupõem a experiência, não se poderá sair da política especializada. Na gestão duma organização, e de uma sociedade, depois, realmente nova, a reivindicação duma participação de todos passa de necessidade sine qua non à condição dum desejo abstracto e moralizador. Os militantes mesmo deixando de ser simples executantes das decisões dos donos do aparelho partidário, expõem-se ainda a verse reduzidos ao papel de espectadores daqueles que no seu seio são os mais qualificados na política, concedia como uma especialização; reconstituindo assim a relação de passividade do velho mundo.
A participação e a criatividade das pessoas dependem dum projecto colectivo que explicitamente diga respeito a todos os aspectos do vivido. É este também o único caminho para “encolerizar o povo”, fazendo aparecer o terrível contrate entre construções possíveis da vida e a sua presente miséria. Sem a crítica da vida quotidiana, a organização revolucionária não passa de um meio sepradado, tão convencional e tão passivo, no fim de contas, como esses aldeamentos turísticos que constituem o terreno especializado dos ócios modernos.
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Mesmo no mais anti-hierárquico e libertário grupo revolucionário, a comunicação entre as pessoas nunca fica assegurada com base no seu programa político comum.
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A revolução da vida quotidiana não poderá extrair a sua poesia do passado, mas apenas do futuro.
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A livre construção de todo o espaço-tempo da vida individual é uma reivindicação que se impõe defender, contra toda a espécie de sonhos de harmonia apresentados pelos candidatos a gestores da próxima arrumação social.
IS nº 6 agosto 1961