Esta distinção entre expressar e receber só tem valor retórico. O fundamental da questão não consiste na separação mas na participação e partilha, segundo a qual só se age no presente e só se expõe cada gesto e cada acto do fazer, num mesmo projecto radicalmente diferente daquele que passiva e voyeristicamente estabelece um terceiro ponto de vista, que tem forma abstracta, o juízo objectivo. Por oposição, a estrutura que se estabelece quando já se está no meio das coisas, é a de um envolvimento total, uma diluição do sujeito-eu com o objecto-coisa numa amálgama de sensações e premonições que se originam mutuamente e influenciam dramaticamente. Quando nos sentamos a fazer uma coisa durante muito tempo, estes estados de coexistência tornam-se absolutamente evidentes. Tocar e tocar, e tocar… tocar mesmo quando já nos dói um pouco as costas mas a urgência dita que assim se continue, transfigura todos pontos da natureza temporal num vórtex complexo e infinito de estar-aqui-plenamente que subverte totalmente a economia da produção e consumo. A execução integral dos 4 volumes das Organic Music Tapes foi como um sonho! Ainda estou a viver dentro daquele concerto. Ficam aqui algumas chapas e um pequeno vídeo deste momento irrepetível. Também podem ler a reportagem do Rimas e Batidas aqui.











João Duarte, TAGV